segunda-feira, 27 de maio de 2013

Conheça Maya Daren e Kenneth Anger


Maya Daren

Maya veio para os EUA em 1922 como Eleanora Derenkowsky, fugindo dos programas contra os judeus russos. Estudou jornalismo e ciência política na Universidade de Syracuse, em Nova York, terminando seu BA na NYU, em Junho de 1936. Em seguida, recebeu seu mestrado em literatura Inglês de Smith em 1939.

Em 1943, ela fez seu primeiro filme com Alexander Hammid, chamado "Malhas da Tarde". Por meio desta associação ela mudou de nome, por sugestão de Hammid, para Maya, que significa "ilusão".

No total, ela fez  seis curtas-metragens e vários filmes incompletos, incluindo um com Cradle de Marcel Duchamp intitulado "Witch" (1944).

Deren é o autora de dois livros, "Um anagrama de ideias sobre arte, forma e filme" (1946) (reimpresso em "The Legend of Maya Deren", vol 1, parte 2)

"Cavaleiros divinos: Os deuses vivos do Haiti" (1953), um livro que foi feito depois de sua primeira viagem ao Haiti em 1947 e que ainda é considerado um dos mais úteis no vodu haitiano. Deren escreveu inúmeros artigos sobre cinema e sobre o Haiti. 

Em 1947, Maya se tornou a primeira cineasta a receber uma bolsa Guggenheim para o trabalho criativo em filmes. Ela escreveu sobre teoria do cinema e distribuiu seus próprios filmes. Viajou através dos EUA, e foi para Cuba e Canadá para promover seus filmes usando o formato de palestra-demonstração para ensinar a teoria do cinema, além de vodu e a inter-relação de magia, ciência e religião. 

Deren estabeleceu a Creative Film Foundation no final de 1950, para recompensar as realizações dos cineastas independentes.

Deren também era um dançarina, coreógrafa, poeta, escritora e fotógrafa. Foi pioneira no cinema experimental nos Estados Unidos e seus filmes raramente são exibidos fora dos cursos de filmes experimentais ou feministas.

Filmografia

Witch’s Cradle (1943)

Meshes of the Afternoon (1943) 




A Study in Choreography for the Camera (1945)

Ritual in Transfigured Time (1946) 



Meditation on Violence (1948)

The Very Eye of Night (1958) 


Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1985)

Original footage shot by Deren (1947-1954).

Filmes sobre Daren

Invocation: Maya Deren (1987)
Dir: Jo Ann Kaplan

In The Mirror of Maya Deren (2001) 
Dir: Martina Kudlacek

Kenneth Anger


É um cineasta underground, autor e ator. Célebre por seus filmes experimentais, sem tentativa de alcançar sucesso comercial, ele se especializou apenas em curta metragem - sendo que, desde 1937, ele fez mais de quarenta filmes, fazendo com que ele ganhasse fama de um dos mais influentes cineastas de filmes independentes na história do cinema.

Muito frequentemente, os seus filmes misturam elementos do surrealismo com homoerotismo e ocultismo. Os seus filmes também já foram descritos como "conteúdos de erótica, documentário, psicodrama e espetáculo.“ Argo descreveu a si mesmo como sendo "um dos primeiros cineastas homossexuais dos Estados Unidos, e, certamente, o primeiro a trabalhar com a homossexualidade de forma nada discreta. 

Alguns de seus principais filmes homoeróticos, tais como "Fireworks" (1947) e "Scorpio Rising" (1964), foram produzidos em pró da legalização da homossexualidade nos Estados Unidos. 

Ele também se concentrou bastante em temas do ocultismo, tornando-se obcecado pelo famoso ocultista inglês Aleister Crowley (como se não bastasse, ele, mais tarde, tornaria-se também seguidor da Thelema, a religião de Aleister Crowley). 

Esta influência é bastante evidente em filmes como "Inauguration of the Pleasure Dome" (1954), "Invocation of My Demon Brother" (1969) e, principalmente, "Lucifer Rising" (1972).

Durante os anos 60 e 70, ele trabalhou e se associou com diversos famosos da cultura popular e do ocultismo, incluindo Anton LaVey(o fundador da Igreja de Satã), o sexologista Alfred Kinsey, o artista Jean Cocteau, o roteirista Tennessee Williams e músicos como Mick Jagger, Keith Richards, Jimmy Page e Marianne Faithfull.

Kenneth Anger é também o autor de best-sellers controversos como Hollywood Babylon (1959) e sua sequência Hollywood Babylon II(1986), no qual ele expõe vários rumores e segredos sobre as celebridades de Hollywood.

Filmografia

Ferdinand the Bull (1937)
Who Has Been Rocking MyDreamboat(1941)
Tinsel Tree  (1941–42)
Prisoner of Mars (1942)
The Nest  (1943)
Demigods (1944)
Drastic Demise (1945)
Escape Episode (1946)
Fireworks (1947)


Puce Moment (1949)
The Love That Whirl (1949)
Rabbit's Moon (1950)
Les Chants de Maldoror (1951–52)
Eaux d'Artifice (1953)
Le Jeune Homme et la Mort (1953)
Inauguration of the Pleasure Dome (1954)
Thelema Abbey (1955)
L'Histoire d‘O (1961)
Scorpio Rising (1963)
Kustom Kar Kommandos (1965)

Invocation of My Demon Brother (1969) 


Lucifer Rising  (1970–1980)
Senators in Bondage (1976)
Matelots en Menottes (1977)
Denunciation of Stan Brakhage (1979)
Don't Smoke That Cigarette! ( 2000)
The Man We Want to Hang (2002)
Anger Sees Red (2004)
Patriotic Penis (2004)
Mouse Heaven (2005)
Elliott's Suicide (2007)
I'll Be Watching You (2007)
My Surfing Lucifer (2007) (http://www.youtube.com/watch?v=UGszYrsoGUE)
Death (2008)
Foreplay (2008)
Ich Will! (2008)
Uniform Attraction (2008)
Missoni (2010)

sábado, 18 de maio de 2013

Referência ao neorrealismo nos filmes atuais

O cinema neorrealista italiano caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características de um documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o neorrealismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época.

Podemos citar algumas heranças deixadas para o cinema, como a origem do cinema moderno, que influencia na insurreição dos cinemas nacionais contra a produção cinematográfica hollywoodiana (cinema novo brasileiro e cinema iraniano, por exemplo). Cineastas italianos como Fellini, Antonioni e Scola adaptaram aspectos neorrealistas para o contexto social de sua época.

Abaixo você confere alguns filmes que usam da referência neorrealista para a construção de sua narrativa:

"Em nome do pai" - Jim Sheridan (1994)


Na década de 70, um atentando do IRA mata cinco pessoas num pub de Guilford, cidade próxima à Londres. Gerry Conlon (Daniel Day-Lewis) é um jovem rebelde irlandês que acaba sendo injustamente acusado pelo crime e é condenado à prisão perpétua junto com três outros amigos. Giuseppe Conlon (Pete Postlethwaite), seu pai, tenta ajudá-lo, mas é condenado também. Enquanto Gerry tem que lutar contra a injustiça de estar preso, ele consegue a ajuda da advogada Gareth Peirce (Emma Thompson), que passa a investigar as irregularidades do caso. O filme mostra a fragilidade social e política de uma sociedade exposta  à conflitos que se estendem até os dias atuais. Ao mostrar os conflitos entre a classe operária irlandesa e o exército de ocupação inglês, o diretor retrata cruamente seus personagens, utilizando-se de atores e figurante em amplos espaços nas batalhas de rua. 

"A Vida é Bela" - Roberto Benigni (1997)


Na Itália dos anos 40, Guido (Roberto Beigni) é levado para um campo de concentração nazista e tem que usar sua imaginação para fazer seu pequeno filho acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam.

"Topsy-Turvy" - Mike Leigh - 1999


William Schwenck Gilbert (Jim Broadbent) escreve as letras, enquanto que Arthur Sullivan (Allan Corduner) escreve as canções. Durante anos, a dupla Gilbert-Sullivan foi sinônimo de originalidade e sucesso nos palcos de ópera ingleses. Mas, em 1884, o mais recente trabalho de ambos, "Princess Ida", receve apenas críticas mornas. Sullivan então rejeita a próxima ideia de Gilbert e a parceria entra em crise. Até que a esposa de Gilbert, Lucy (Lesley Manville), o leva a uma nova exposição japonesa, que o apresenta a uma cultura diferente e o inspita a embarcar numa nova produção, chamada 'The Mikado"


"Dançando no Escuro" - Lars Von Trier (2000)




Selma Jezkova (Björk) é uma mãe solteira portadora de uma doença hereditária na visão. Tentando impedir que seu filho fique cego como ela está ficando, Selma trabalha o máximo que pode para economizar e pagar sua operação. Só que quando um vizinho amigo passa por problemas financeiros e a rouba, têm-se início uma série de trágicos acontecimentos que mudarão para sempre os rumos de sua vida.

"O Segredo de Vera Drake" - Mike Leigh (2004)



Utilizando de cenas improvisadas e sem roteiro (o diretor o escreveu apenas para poder concorrer ao Oscar), o filme se passa na Londres de 1950. Vera Drake (Imelda Staunton) mora com seu marido Stan (Phillip Davis) e seus filhos já crescidos, Sid (Daniel Mays) e Ethei (Alex Kelly). Eles não são ricos, mas formam uma família feliz e unida. Vera trabalha como faxineira e Stan é mecânico na oficina de seu irmão. Porém, Vera mantém uma atividade paralela que esconde do resto da família: sem aceitar pagamento, ajuda jovens mulheres e abortarem. Quando uma dessas garotas precisa seguir para o hospital, a polícia começa uma investigação que faz a vida de Vera mudar completamente. Na cena acima, nenhum dos atores sabia que a polícia chegaria e prenderia Vera. A reação dos atores é genuína.







Neorrealismo italiano


Clara Calamai e Massimo Girotti são amantes amaldiçoados
no filme de Luchino Visconti, "Obsessão", considerado 
um dos primeiros neorrealistas

O termo "neorrealismo" foi cunhado pelos críticos italianos no início da década de 1940. O roteirista Cesare Zavattini foi um dos principais nomes do movimento e um de seus mais importantes teóricos. Ele convocou os cineastas para saírem às ruas, subirem em ônibus e bondes e "roubarem" as histórias do cotidiano, relatando em seu diário de guerra Diario di cinema e di vita: "Montemos a câmera na rua, num quarto, observemos com paciência insaciável, treinemo-nos para contemplar nossos semelhantes em seus gestos mais simples." Zavattini escreveu os roteiros de filmes como "Ladrões de bicicletas (1948), "Umberto D." (1952) e "Milagre em Milão" (1951), todos com foco nas dificuldades que as pessoas comuns enfrentavam na Itália da época. O cinema italiano do período neorrealista está repleto de histórias de pessoas tentando resolver dilemas cotidianos. O movimento era uma reação ao estilo dos filmes Telefone Bianco (Telefone Branco) da década de 1930, que copiavam os filmes de Hollywood e se concentravam na vida burguesa. As películas neorrealistas geralmente usavam atores amadores e eram filmadas em áreas pobres, in loco, retratando pessoas em suas atividades diárias, com ênfase no realismo áspero e na sensação de energia resistente

"Obsessão" (1943), dirigido por Luchino Visconti (1906-1976), é às vezes citado como o primeiro filme neorrealista, embora seja uma obra com fortes elementos noir. Seu roteiro se baseia num romance policial de James M. Cain, "O destino bate à sua porta" (1934). Visconti trabalhou com seus colegas escritores e cineastas da revista Cinema, entre eles Giuseppe de Santis. É uma história que se passa no interior da Itália, sobre um vagabundo que tem um caso com a dona de um restaurante; os amantes planejam matar o marido. Visconti enfrentou problemas com a censura por causa do filme, que foi proibido na Itália sob o regime fascista.

Os protagonistas do neorrealismo variam de muito jovens a muito velhos. "Umberto D.", dirigido por Vittorio de Sica (1902-1974), conta a história de um idoso (Carlo Battisti) empobrecido que se apega desesperadamente à sua dignidade. Ele vagueia por Roma com seu único e leal companheiro: um cachorro. Por outro lado, crianças têm papéis de destaque em "Ladrões de bicicletas" e "Milagre em Milão". Mas os diretores neorrealistas nem sempre tinham uma visão documentarista sobre o material. "Milagre em Milão", de De Sica, por exemplo, fala de um grupo de mendigos que vive numa vila de barracos nos arredores de Milão do pós-guerra e pode muito bem ser descrito como "realismo mágico". Ele trata ao mesmo tempo de ambiciosos proprietários de terra e invasores mercenários com um forte elemento fantástico. E nem todos os filmes neorrealistas usavam atores amadores. "Roma, cidade aberta" (1945), de Roberto Rossellini (1906-1977), é estrelado por Anna Magnani, um dos principais nomes do cinema do pós-guerra, e pelo ator, escritor e diretor Aldo Fabrizi (1905-1990)

"Alemanha, ano zero", de Roberto Rossellini, conta a trágica história de um
menino que tenta sobreviver na Berlim do pós-guerra. Ele mostra que,
apesar do fim do conflito, seus efeitos ainda são sentidos pelos sobreviventes

"Roma, cidade aberta" ganhou o Grande Prêmio no Festival de Cannes e provocou impacto imediato. Reza a lenda que o diretor compôs o filme com "refugos" - pedaços de filmes dados a ele por soldados cinegrafistas americanos que libertaram Roma na Segunda Guerra Mundial. Seu estilo de filmagem, no entanto, estava restrito à condições sob as quais trabalhava. As cenas foram filmadas rapidamente enquanto se escondia dos nazistas e das gangues formadas por jovens italianos que queriam obrigá-lo a lutar pelo fascismo. A ideia de o filme ter sido feito de maneira improvisada é um exagero, Ainda assim, ele exibia certa rusticidade e certa energia que acabariam sendo vistas como marcas registradas do neorrealismo.

Rossellini dirigiu ainda "Paisà" (1946), um longo filme sobre o fim da guerra na Itália. A ele se seguiu o brutal "Alemanha, ano zero" (1948), que se passa na Berlim em ruínas e conta em detalhes o empenho de um jovem lutando para sobreviver logo depois da derrota dos nazistas. Há uma grande diferença entre os filmes da trilogia de guerra de Rossellini e seu trabalho com Ingrid Bergman em "Stromboli" (1950). Este filme conta uma história estranha sobre uma jovem imigrante lituana que se casa com um pescador italiano para fugir de um campo de refugiados no fim da guerra. Ela passa a viver com o marido numa remota ilha e se descobre confusa oprimida pela sociedade machista que lá encontra.

Um cartaz italiano do filme "Stromboli", estralado
por Ingrid Bergman, enfatiza a dureza da vida que sua
personagem enfrenta quando se muda para
uma ilha vulcânica.

No início da década de 1950, o cinema neorrealista na Itália já não exibia o imediatismo que caracterizara o movimento nos anos que se seguiram à guerra. As condições haviam mudado; a sociedade italiana estava mais rica e os cineastas, menos preocupados em retratar os que viviam à margem dessa sociedade. Ainda assim, a influência do neorrealismo foi grande; o Cinema Novo, no Brasil, o Cinema Livre, na Grã-Bretanha, a Nouvelle Vague francesa e o movimento cinéma verrité nos documentários foram todos influenciados pelas obras de diretores como De Sica e Rossellini na década de 1940.

PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS

1940 - Frederico Fellini (1920-1993) começa a trabalhar como roteirista em Roma.
1942 - De Sica trabalha com Zavattini pela primeira vez no roteiro de "A culpa dos pais" (1944).
1943 - Considerado um dos primeiros filmes neorrealistas, "Obsessão" cai nas garras dos censores facistas italianos, que destroem o negativo do filme. Mas Visconti salva uma cópia.
1944 - Frederico Fellini conhece Roberto Rossellini, que o chama para escrever os diálogos de "Roma, cidade aberta".
1945 - Roberto Rossellini produz o primeiro filme de sua trilogia sobre a guerra, "Roma, cidade aberta".
1947 - Michelangelo Antonioni (1912-2007) coescreve o roteiro de "Caccia Tragica", de De Santis, sobre uma cooperativa agrícola.
1948 - Luchino Visconti dirige "A terra treme". Seu estilo se aproxima do que é hoje considerado neorrealismo.
1948 - "Ladrões de bicicletas", de De Sica, é lançado. O filme é considerado um clássico do neorrealismo e recebe um Oscar Honorário em 1950.
1949 - De Santis faz Silvana Mangano uma estrela e um símbolo sexual ao escalá-la como uma camponesa no então chocante "Arroz amargo".
1949 - A Lei Andreotti concede subsídios a cineastas italianos cuja obra seja aprovada pelo governo e que não maculem a imagem da Itália.
1950 - Ingrid Bergman, casada, provoca escândalo ao deixar Hollywood para estrelar "Stromboli", de Rossellini, e logo depois tem um caso com o diretor.
1953 - "Os boas-vidas", filme de Fellini sobre jovens delinquentes presos numa cidadezinha, é lançado e, mais tarde ganha o Leão de Prata no Festival de Veneza.

ALGUMAS OBRAS

Roma, cidade aberta (1945)
(Roma, città aperta) - ROBERTO ROSSELLINI (1906-1977)

Depois de ver a morte de um padre, os meninos voltam a Roma pela Via Trianfole

Roberto Rossellini adotou notoriamente uma abordagem improvisada em "Roma, cidade aberta", filmado nas ruas da recém-libertada Roma. A maior parte do material foi filmada sem som, com elementos sonoros acrescentados posteriormente. A edição é brusca porque o diretor não tinha filme de sobra. "Geralmente o negativo acabava antes da cena", reclamava Aldo Fabrizi, que interpretou um padre na resistência antinazista.

O diretor se inspirou nas próprias experiências enquanto se escondia das patrulhas nazistas que procuravam jovens italianos para obrigá-los a lutar pelo fascismo. Ele originalmente planejava fazer um documentário; ao transformá-lo em ficção, o fez com o olhar de um documentarista. "Tentei captar a realidade", disse ele certa vez, "nada além disso". As cenas de tortura parecem estranhamente caricaturais no mundo contemporâneo de Gunatánamo e Abu Ghraib. Vemos um membro da resistência sendo esfolado, açoitado e queimado enquanto Don Pietro (Fabrizi) está sentado no cômodo ao lado.

Um fascista sem rosto ameaça
Don Pietro e Pina.


Como notaram os críticos, "Roma, cidade aberta" não é explicitamente um filme neorrealista como parece de início. Além da filmagem documental, reúne elementos que combinariam mais com um melodrama hollywoodiano. Há uma dona de casa corajosa (Anna Magnami) que parece uma Sra. Miniver italiana, meninos de rua heroicos e um padre bem semelhante ao padre Brown. Numa cena assustadora, a jovem atriz que trai a resistência desmaia ao perceber o sofrimento que causou. Ela recebera um casaco de pele como propina para deletar os combatentes. Enquanto está desmaiada, seu casaco é retirado do corpo para ser reutilizado no convencimento de outra traidora. Ninguém sabia filmar um acena de morte melhor que Rossellini: o assassinato de Magnami, correndo pelas ruas, e a execução do padre diante de várias crianças são encenados com o máximo de compaixão e dramaticidade.




CENAS MARCANTES

A MORTE DE PINA

Quando seu noivo Francesco é preso pelos nazistas e levado num caminhão, Pina (Magnami) corre atrás dele. Numa tomada que parece tirada diretamente de um cinejornal, ela é morta no meio da estrada. Seu filho, em desespero, se joga sobre o corpo dela

A INVASÃO NO BLOCO DE APARTAMENTOS

Uma ronda nazista ordena que os ocupantes de um bloco de apartamentos, entre eles pessoas doentes, reúnam-se do lado de fora, no pátio. Don Pietro chega a tempo de esconder sob a cama de um velho as armas pertencentes à resistência.

Ladrões de bicicletas (1948)
(Ladri di biciclette) - VITTORIO DE SICA  (1902-1974)

Os atores amadores Maggiorani e Staiola exibem interpretações
tocantes, mas não sentimentais

Se a qualidade de um filme pode ser medida pela admiração que desperta, "Ladrões de bicicletas" deve ser o melhor filme do mundo. Diretores como René Clair (1898-1981), Jacques Becker (1906-1960) e Robert Bresson (1901-1999) escreveram com entusiasmo sobre a fábula neorrealista de De Sica e sobre sua simplicidade. Um homem desempregado (Lamberto Maggiorani) na Roma do pós-guerra recebe uma oferta de emprego para colar cartazes pelas ruas - com a condição de que tenha uma bicicleta. Ele compra uma, mas, depois que ela é roubada, sua vida ameaça desmoronar. De Sica e seus roteiristas perceberam o imenso drama que podia haver numa história cotidiana. As dificuldades de Antonio e seu filho tentando recuperar a bicicleta provam ser tão emocionantes quanto as de um herói num filme de ação. Uma cidade tumultuada cria um cenário tão dramático quanto um campo de batalha.

Cartaz do filme que recebeu um Oscar Honorário
em 1950
O diretor vendeu o filme para o produtor hollywoodiano David O. Selznick, que propõs Cary Grant para o papel do desempregado. De Sica respondeu que Henry Fonda talvez fosse o melhor. Por fim, De Sica escalou Maggiorani, "um simples trabalhador de Breda que deixou seu emprego durante dois meses para me emprestas seu rosto". Apesar da falta de experiência, era incrivelmente belo e elegante.

Certas cenas são extremamente estilizadas. Enquanto Antonio procura por sua bicicleta, De Sica mostra cenas de uma bicicleta após a outra. Há algo de assustador nessa busca - como se toda a cidade estivesse contra ele. De Sica também captou muito do drama real das ruas. O menino (Enzo Staiola) não é uma uma criança típica da Disney, com olhos escuros e covinha no queixo; Staiola era filho de refugiados e há certa rudeza e desenvoltura em sua atuação. E isso apenas acrescenta compaixão ao filme. Como disse o próprio De Sica: "É a criança mais adorável do mundo."


Confira o filme completo no link abaixo:

"Ladrões de bicicleta"


Fonte: KEMP, Phillip. Tudo sobre cinema /  Phillip Kemp (tradução de Fabiano Morais... et al); Rio de Janeiro: Sextante, 2011

terça-feira, 7 de maio de 2013

O futuro do encontro entre o cinema independente e seu público


No mês de abril aconteceu a 15ª edição do Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (BACIF), entre os dias 10 e 21, na capital Argentina. O evento tem como proposta a inclusão de produções independentes no circuito de distribuição e internacionalização cinematográfica. Com o mesmo objetivo de realização, podemos destacar também a Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, que em janeiro teve sua 16ª edição, e pode ser considerada uma das maiores vitrines do cinema independente brasileiro.

La Paz, de Santiago Loza, ganhou o prêmio de melhor filme nacional do BACIF 2013


Ambos os eventos são recheados de produtos audiovisuais de qualidade, que apesar de não terem os mesmos recursos que os grandes estúdios, podem contar com o auxílio ofertado por meio de leis de incentivo de projetos culturais e também com os avanços tecnológicos, que facilitam e barateiam estas produções. Ou seja, temos uma grande variedade de bons filmes independentes, tanto aqui como em outros países. Porém, enfrentamos uma grande dificuldade em fazer o contato entre estas obras e seu público, que ficam restritas, na maioria das vezes, apenas aos festivais.

Por que é tão difícil encontrar salas que façam a exibição destes produtos? Hoje o mercado está cheio dos seus blockbusters (lançados pelas grandes distribuidoras), e o público que consumiria as realizações alternativas não encontra oferta. É claro que a demanda pelos blockbusters é maior, e por isso, é pouco provável que o quadro da distribuição feita pelo mercado cinematográfico mude.

Mas então, qual será o recurso que a minoria que aprecia o cine underground poderá utilizar para ter acesso ao produto de seu interesse? Pode-se dizer que a internet já vem cobrindo estas brechas, e se tornando uma distribuidora em potencial deste material (mesmo que ainda não esteja lucrando com isso). No entanto, a exemplo da indústria fonográfica, que estabeleceu uma relação de mercado com seus consumidores (como na iTunes), pode ser que em breve o mesmo seja adaptado aos filmes.